Carta aberta na quarentena

Pensei muito antes de fazer esse texto, pois sou uma pessoa privilegiada, de certa forma.

Eu trabalho em casa e só preciso sair na rua pra comprar comida, remédio e ração pra cachorro. Não tenho filhos, não lido sozinha com as dívidas e nem com as tarefas da casa, pois tenho um namorado pau pra toda obra. Meus familiares estão seguros, salvo uma tia e duas primas que pegaram o corona, mas as três já estão em casa, saudáveis e sem sequelas.

Por outro lado, perdi grande parte dos meus ganhos com a chegada da pandemia, pois sou redatora freelancer e dependo de negócios prósperos pra roda da minha economia girar. Felizmente, estando presa em casa eu não gasto tanto. Então o que eu e meu namorado ganhamos tá dando pra segurar as pontas até as coisas se regularizarem.

Mas eu estou mal, mesmo estando tecnicamente bem.

Não consigo ficar esperançosa. Estamos abandonados por quem deveria, tecnicamente, cuidar da gente e grande parte da população tem se revelado egoísta, irresponsável e cruel. Tá difícil enxergar algum feixe de luz lá fora, e por isso, decidi desviar meu olhar para dentro de mim. Ou melhor, pra mim, no geral.

No fim das contas, é isso que eu gostaria de compartilhar com vocês. Desde que comecei a dar mais atenção às minhas necessidades, tenho conseguido lidar melhor com a aflição da quarentena. Ver filme e séries, ler livros, cozinhar meus pratos favoritos, fazer exercícios e ter um ombro pra lamentar é o que eu tenho pra recomendar para vocês. 

Peço desculpas por não ter escrito algo mais leve, mas eu fiz esse desabafo justamente pra atingir quem, assim como eu, tem sentido culpa por estar agoniada. 

Gostaria de dizer pra você que não tem problema se sentir assim e que essa situação pegou todo mundo desprevenido. Foque em você, viva o momento presente e tenha paciência. Uma hora isso vai passar. 

<3

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